Trechos escolhidos entre documentos do Projeto Portinari sobre a infância de Candido Portinari descrita pelo prórpio pintor, aqui apresentados ao lado de suas obras. Sugerimos utilizar em sala de aula com alunos de 1º a 4º ano.
CAFÉ
Nasci numa fazenda de café, a Fazenda Santa Rosa. Meus pais trabalhavam na terra. Vivíamos a maior parte do tempo no campo.
MENINOS PULANDO CARNIÇA
Nosso quintal se estendia por todos os lados, podíamos brincar. O mundo era um lugar onde todos podiam se alegrar com o espetáculo das flores e dos ventos.
FLORESTA
O campo era sempre o melhor refúgio. Além dos frutos silvestres, que havia durante todo o ano, conhecíamos todos os recantos, todas as árvores.
ESPANTALHO
Começávamos a abrir os olhos para a vida. Uma vida povoada de sonhos, cansaços e grandes medos.
ESPANTALHO
Durante o dia, contavam para nós histórias de lobisomem e almas do outro mundo. À noite, o sopro do vento no campo nos apavorava.
BANDA DE MÚSICA
Havia muita festa com banda de música.
MÚSICO
O velho Murari formou a banda local, e foi o primeiro maestro. Velho simpático e calado. Andava sempre de alpaca preta.
CIRCO
Por esse tempo vinha o circo, com o palhaço Tôni, equilibrista e acrobata. Aqui também nos sonhos a gente se transportava para outras regiões.
MENINA COM TRANÇAS E LAÇO
Víamos as moças bem vestidas, penteadas e pintadas. Grande surpresa vê-las tão bonitas. Sem dúvida, uma paixão.
MENINA SENTADA
Namoro de criança é poesia que transborda. Amei muitas primas.
CABEÇA DE MENINA
Uma delas, a mais amiga, se parecia com artista de cinema. Íamos a toda parte juntos.
MENINA COM TRANÇAS E LAÇO
A cunhada do professor era solteira e muito bonita. Todos nós éramos apaixonados por ela.
MENINOS BRINCANDO
Durante o recreio, ela vinha à janela; era motivo de nossas exibições: dávamos cambalhotas, plantávamos bananeira.
MÚSICO TRISTE
No coreto, aos domingos, as moças e os rapazes se encontravam na retreta. Findo o concerto, a banda se tocava para o cinema.
MENINOS NO BALANÇO
Veio como vigário o padre Josué, muito bom e amigo da criançada. Logo organizou uma escola eficiente e transformou a praça em campo de esporte, com gangorra, balanço, barra, argola.
FUTEBOL
Nossos brinquedos eram variados, conforme o mês e conforme a hora. Para o dia, era o futebol.
MENINOS SOLTANDO PIPAS
Agosto era o mês do vento, o mês de soltar papagaio e balão. A linha de costura desaparecia no céu.
MOLEQUES PULANDO CELA
À noite, podíamos brincar de pique ou de pular carniça.
MENINO COM ESTILINGUE
As andorinhas faziam acrobacias em volta da torre da igreja. Iam e vinham, com suas reviravoltas. Tínhamos estilingue e funda. Mas ninguém atirava nas andorinhas.
MENINO COM CARNEIRO
Um dia, alguém apareceu montando um carneirinho branquinho, alimentado a mamadeira. Ninguém tinha inveja, brincávamos com ele tanto quanto o dono.
MENINO COM CARNEIRO
Os animais conviviam com todos nós. Não nos passava pela mente a noção de propriedade em relação a seres viventes.
MENINO RETIRANTE SEGURANDO BAUZINHO
Apareceu um menino, filho de alguém lá de Brodósqui. Tinha vindo da Itália e usava um chapéu. Meu maior desejo era possuir um chapéu como aquele.
MENINOS SOLTANDO PIPAS
Nossa imaginação esvoaçava como pipas pelo firmamento. Fantasias forjadas, olhando as nuvens brancas, mais brancas que a neve.
PASTOR
Gostava de deitar na grama e olhar as estrelas, era um grande prazer. Dormíamos cheios de felicidades. Sonhávamos sempre, dormindo ou não.
NATUREZA-MORTA
Comecei a tatear e a pintar tudo de cor. Eu fazia uma maçã, dentro da maçã fazia uma mesa e em cima da mesa punha outra maçã. Pintei isso não sei quantas vezes.
PALHACINHOS NA GANGORRA
Sabe por que é que eu pinto tanto menino em gangorra e balanço? Para botá-los no ar, feito anjos.
DENISE COM GATO
Sempre gostei de pintar anjos, mesmo que não tivessem asas. Desconfio que os anjos gostam muito de bichinhos de estimação.
DIVINA PASTORA
Também pintei anjos correndo, com suas grandes asas abertas, levando um bauzinho azul, cheio de segredos.
RETRATO DE JOÃO CANDIDO
Tudo se movia ao nosso redor como um passe de mágica. Não esqueço de minha avó dizendo que no céu tinha pão-de-ló de ouro.
MENINA COM PÁSSARO
Poesia é um passarinho muito raro. Passa depressa. A gente vai querer segurar, ele voa e vai-se embora.
ESPANTALHO
As manhãs eram belas quando o sol surgia, iluminando tudo. Até mesmo os espantalhos pareciam menos assustadores. As cores se avivavam, dando magnífica impressão.
MENINO COM ESTILINGUE
Belas eram as flores silvestres. Conhecíamos bem os pássaros, as sariemas, as saracuras e os tatus. Quando víamos no chão um buraco, sabíamos a que bicho pertencia.