Linha do tempo: Candido Portinari

É possível obter mais detalhes sobre a vida e a obra do pintor consultando os livros recomendados em O Artista > Bibliografia. 

1903

Candido Portinari nasceu em 29 de dezembro na fazenda de café Santa Rosa, próxima à cidade de Brodowski, Estado de São Paulo, na época um pequeno lugarejo com cerca de 700 habitantes. É o segundo dos 12 filhos de Baptista Portinari e Dominga Torquato, ambos italianos da região do Vêneto, na Itália, que migraram para o Brasil no final do século XIX, momento de expansão da cultura cafeeira. 

1906

Baptista e Dominga deixam a fazenda e se estabelecem como comerciantes em Brodowski, parada para os trens apanharem café e ponto de passagem de retirantes em busca de trabalho.    

1911

Portinari frequenta a escola em Brodowski, provavelmente entre 1911 e 1916, não indo além do terceiro ano do curso primário.

1914

Aos 10 anos, Portinari faz o Retrato de Carlos Gomes, primeiro desenho seu de que se tem registro.  

1918

Em 1918, passa por Brodowski um grupo itinerante de pintores e escultores italianos que decoravam igrejas de pequenas cidades do interior. Candido é chamado para ser ajudante, juntamente com Modesto Giordano, seu companheiro de infância, que relata:

"Ele (Portinari) ficava lá trabalhando. Cedo, era o primeiro que chegava lá [...] quase nem ia comer em casa [...]. [Era] doente para aprender a arte de pintor."

Vídeo 'Começo da trajetória do pintor Candido Portinari':

1919

Candido Portinari parte para o Rio de Janeiro em companhia da família Toledo, amiga dos Portinari e proprietária de uma pensão na avenida Passos, nº 44. Portinari ali se instala, prestando pequenos serviços. Na capital, ingressa no Liceu de Artes e Ofícios.

1920

Portinari matricula-se como aluno livre na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), cursando regularmente as aulas de desenho figurado. Encontra ali um ambiente contraditório e tenso, marcado por normas rígidas.

1921

Muda-se para uma pensão na Rua Marquesa de Santos nº 23. Continua seu período de formação na ENBA, com os Professores Lucílio de Albuquerque, Rodolfo Amoedo, Rodolfo Chambelland, Baptista da Costa, entre outros.

1922

Durante todo o período em que permaneceu ligado à Escola, ele participa de suas Exposições Gerais, que eram os chamados "salões" anuais, cujo prêmio máximo era a ambicionada viagem de estudos à Europa. Portinari expõe pela primeira vez e recebe Menção Honrosa por um retrato, provavelmente de seu amigo Ezequiel Fonseca Filho.   

1923

Frequenta, na ENBA, as aulas de pintura do Professor Baptista da Costa. Em agosto tem um retrato premiado no Salão com Medalha de Bronze, prêmio em dinheiro e Prêmio da Galeria Jorge. Seu nome começa a ser citado na imprensa. Consegue novo trabalho, pintando os letreiros de uma livraria.

1924

Portinari se submete ao júri de seleção do Salão da ENBA com sete retratos e a tela Baile na Roça, sua primeira obra temática brasileira, pintada durante as férias de verão passadas em Brodowski. Os retratos são aceitos, mas Baile na Roça é recusado.    

1925

Em maio de 1925, Portinari, então com 21 anos, participa, com dois retratos, do IIII Salão da Primavera e dá sua primeira entrevista, publicada no Jornal do Brasil, em 6 de maio, intitulada “Palavras de um jovem retratista patrício”. Eis o que ele diz: "O alvo da minha pintura é o sentimento. Para mim, a técnica é meramente um meio. Porém um meio indispensável." Em agosto, na XXXII Exposição Geral de Belas Artes, ganha a Pequena Medalha de Prata, que o habilita a concorrer ao Prêmio de Viagem.

1926

Em agosto participa com dois retratos do Salão da ENBA, concorrendo pela primeira vez ao Prêmio de Viagem à Europa. Não atinge este objetivo, mas ganha novamente o Prêmio da Galeria Jorge e um prêmio em dinheiro. Em entrevista, critica os "falsos modernistas", aqueles que, a seu ver, são "os que não estudaram a essência e o processo acadêmico, e se rebelam contra ele, porque apresenta dificuldades, e não porque seja uma expressão de velhice ou cansaço." Em outra entrevista aborda o tema da arte nacional: "arte brasileira só haverá quando os nossos artistas abandonarem completamente as tradições inúteis e se entregarem, com toda alma, à interpretação sincera do nosso meio."

1927

Em agosto apresenta três retratos ao Salão da ENBA, concorrendo, novamente, ao Prêmio de Viagem. É contemplado com a Grande Medalha de Prata.

1928

Ano decisivo na trajetória artística de Portinari. O pintor apresenta 12 obras à XXXV Exposição Geral de Belas Artes e ganha o Prêmio de Viagem à Europa, com o Retrato de Olegário Mariano. A imprensa destaca a vitória do artista.   

1929

Portinari faz sua primeira exposição individual, com 25 retratos, no Palace Hotel-RJ, iniciativa da Associação dos Artistas Brasileiros, dirigida por Celso Kelly. Embarca para a Europa no navio brasileiro Bagé.

Em Paris, instala-se provisoriamente em Montparnasse, reduto dos artistas na época. Logo se muda para o Hôtel du Dragon e inicia sua programação de estudos. Decide não frequentar a Académie Julien, como era praxe entre os premiados da ENBA. 

1930

Portinari escreve a Rosalita Mendes de Almeida, colega da ENBA. É a carta do Palaninho (CO-4545.1), verdadeira declaração de intenções, na qual surge com toda a sua força o Brasil que emociona Portinari e que ele pretende retratar no seu regresso: "Palaninho é da minha terra, é de Brodósqui!", anuncia, fazendo uma descrição minuciosa, plástica e comovida de Palaninho e sua família, gente simples, típica da roça:

"...Palaninho é da minha terra, de Brodowski…Vim conhecer aqui o Palaninho, depois de ter visto tantos museus, tantos castelos e tanta gente civilizada…Aí no Brasil eu nunca pensei no Palaninho… Daqui fiquei vendo melhor a minha terra – fiquei vendo Brodowski como ela é. Aqui não tenho vontade de fazer nada… Vou pintar o Palaninho, vou pintar aquela gente com aquela roupa e com aquela cor…"

Participa da exposição coletiva de arte brasileira em Paris – Exposition d’Art Brésilien (Exposição de Arte Brasileira), realizada no Foyer Brésilien, com duas obras: um retrato e uma natureza morta. Conhece Maria Victoria Martinelli, jovem uruguaia de 19 anos – radicada com a família em Paris – sua companheira de toda a vida.    

1931

O casal regressa ao Brasil. Candido Portinari traz na bagagem seis obras: três naturezas mortas, um nu, um autorretrato e um pequeno retrato de Maria. De volta, recomeça a pintar intensamente para garantir a sobrevivência do casal.

1932

Portinari apresenta mais de 60 obras em exposição individual no Palace Hotel, promovida pela Associação dos Artistas Brasileiros. Pela primeira vez, o artista expõe telas de temática brasileira, enfocando cenas de infância, do circo e de cirandas.   

1933

Portinari e Maria mudam-se para um apartamento no bairro das Laranjeiras, à Rua Pires de Almeida, nº 143. Mário de Andrade comenta sobre ser uma "falha sensível essa ausência de arte social entre nós" e a historiadora da arte Annateresa Fabris, em sua tese “Portinari, pintor social”, comenta: "preocupações de ordem social começam a tomar corpo entre os modernistas." Esta inquietação parece antecipar o papel que Portinari passa a desempenhar a partir desse momento. Em julho Portinari expõe novamente no Palace Hotel e, em novembro, envia seis obras para a 2ª Exposição de Arte Moderna da SPAM (Sociedade Pró-Arte Moderna), em São Paulo.

1934

Portinari pinta Os Despejados, sua primeira obra com temática social. A tela Mestiço é adquirida pela Pinacoteca do Estado de São Paulo, primeira instituição pública a incluir uma obra de Portinari em seu acervo.  

1935

A convite de Celso Kelly, é contratado para lecionar pintura mural e de cavalete no Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal (UDF), Rio de Janeiro. Participa da exposição do Instituto Carnegie, em Pittsburgh, com a tela Café, conquistando a Segunda Menção Honrosa.

1936

Em janeiro realiza-se no Palace Hotel a primeira exposição de trabalhos dos alunos de Portinari da UDF. O artista realiza quatro grandes painéis para o Monumento Rodoviário, na Rodovia Presidente Dutra, que liga o Rio de Janeiro a São Paulo.   

1937

Decide executar os murais do Ministério da Educação e Saúde em afresco, técnica ainda pioneira no Brasil. Portinari envia 25 obras para o 1º Salão de Maio, em São Paulo.

1938

Portinari realiza centenas de estudos a carvão, crayon, têmpera, guache e aquarela para a execução dos 12 murais em afresco para a sede do Ministério da Educação, hoje Palácio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro.

1939

Em 20 de janeiro, o presidente Getúlio Vargas decreta a extinção da UDF, encerrando, consequentemente, a carreira de Portinari como professor. Nasce seu filho João Candido. Portinari pinta os painéis Jangadas do Nordeste, Cena Gaúcha e Noite de São João para o Pavilhão Brasileiro da Feira Mundial de Nova York, cujo projeto arquitetônico é de Lucio Costa e Oscar Niemeyer. É inaugurada no Museu Nacional de Belas Artes a maior exposição de Portinari, com 269 obras. O catálogo tem prefácio de Manuel Bandeira e Mário de Andrade.  

1940

Participa da Latin American Exhibition of Fine Arts (Mostra Latino-Americana de Arte), no Museu Riverside de Nova York, com 35 obras. A Exposição Portinari of Brazil (Portinari do Brasil), com aproximadamente 180 obras, é realizada no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), e posteriormente percorre diversas cidades americanas.    

1941

A Universidade de Chicago edita o álbum Portinari, his Life and Art (Portinari, Vida e Arte). Portinari pinta a Capelinha da Nonna, em Brodowski, num dos cômodos da casa da família, para sua avó Pellegrina. Os santos que decoram as paredes são feitos em tamanho natural e retratam pessoas de sua família. Inaugura exposição na Galeria de Arte da Universidade de Howard, em Washington.  

1942

São inaugurados os murais na Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso, em Washington. Os painéis apresentam uma temática histórica latino-americana.   

1943

É inaugurada uma exposição individual de Portinari no Museu Nacional de Belas Artes, com 168 trabalhos. Memórias Pósthumas de Braz Cubas, de Machado de Assis, primeiro livro publicado pela Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil, é ilustrado por Candido Portinari.   

1944

Portinari participa da exposição comemorativa dos 15 anos de fundação do MoMA – Art in Progress (Arte em Progresso) – com as obras Espantalho e Colonos Carregando Café. Portinari pinta os painéis da Série Retirantes. É concluído o conjunto arquitetônico da Pampulha em Belo Horizonte, encomenda do então prefeito Juscelino Kubitschek a Oscar Niemeyer, incluindo a Igreja de São Francisco de Assis, decorada por Candido Portinari com azulejos na parte externa e pintura mural no interior.   

1945

A crescente preocupação política de Portinari leva-o a candidatar-se a deputado federal. Sua plataforma defende uma Constituinte soberana, com base no apoio popular à cultura, à sindicalização dos camponeses, contra a carestia, a inflação, o latifúndio e o Integralismo.  

1946

A Galeria Charpentier, em Paris, inaugura exposição de Portinari com 84 trabalhos. O governo francês condecora Portinari com a Legião de Honra.   

1947

Apresenta sua candidatura ao Senado pelo PCB, mas perde a eleição por pequena margem de votos. Inaugurada sua primeira exposição individual na Argentina, no Salón Peuser, em Buenos Aires, com 91 obras. O governo do Presidente Eurico Dutra intensifica a perseguição aos comunistas. Em novembro, Portinari parte para o Uruguai em exílio voluntário. Em dezembro, a família Portinari vai ao encontro do artista.  

1948

É exposto no Teatro Solis, em Montevidéu, o painel A Primeira Missa no Brasil, pintado para a nova sede do Banco Boavista, no Rio de Janeiro. Portinari volta ao Brasil e, em dezembro, faz uma exposição retrospectiva no MASP, em São Paulo.

1949

Portinari executa o painel Tiradentes para o Colégio de Cataguases, em Minas Gerais. É convidado a participar, em Nova York, da Conferência Cultural e Científica para a Paz Mundial, mas a Embaixada Americana nega-lhe o visto de entrada. Portinari é intimado a comparecer à Polícia Central para prestar esclarecimentos por sua participação na Universidade do Povo.

1950

Portinari visita, pela primeira vez, Chiampo, cidade natal de seu pai, na região do Vêneto. Recebe a Medalha de Ouro da Paz, por sua obra Tiradentes, no II Congresso Mundial dos Partidários da Paz, em Varsóvia.   

1951

Portinari participa da I Bienal de São Paulo.

1952

Portinari faz o painel A chegada de D. João VI à Bahia, encomenda do Banco da Bahia. O Secretário Geral das Nações Unidas anuncia oferta, feita pelo governo brasileiro, de dois painéis (Guerra e Paz), que serão executados por Portinari, e que decorarão um dos salões da nova sede da ONU.

1953

É internado no Rio de Janeiro, após sofrer hemorragia intestinal. O diagnóstico aponta para o uso de determinadas tintas contendo metais pesados, como chumbo, cádmio e prata. Após dez anos sem expor individualmente no Rio de Janeiro, Portinari inaugura mostra com 100 obras no Museu de Arte Moderna (MAM).  

1954

Inaugura exposição individual no Museu de Arte de São Paulo (MASP) com mais de 100 obras, entre elas, duas maquetes para os painéis Guerra e Paz, presente do Governo Brasileiro para a sede da ONU, em Nova York. Por determinação médica, Portinari fica algum tempo sem pintar. O chumbo das tintas é a causa da doença. "Estou proibido de viver", diz Portinari.

1955

É assinado o contrato entre Portinari e o Ministério das Relações Exteriores para a execução dos painéis Guerra e Paz, cujos estudos já se encontram bastante adiantados. Portinari participa da III Bienal de São Paulo com sala especial, hors concours, e apresenta 12 estudos para o painel Guerra, todos eles de grandes dimensões. Agraciado com a Medalha de Ouro concedida pelo International Fine Arts Council – IFAC –, de Nova York, como o melhor pintor do ano.   

1956

Portinari entrega Guerra e Paz. Os painéis, de 14m x 10m cada um, foram realizados a óleo sobre madeira compensada naval, durante nove meses, com a ajuda de Enrico Bianco e Rosalina Leão. Antes de seguirem para a sede da ONU, em Nova York, o Presidente da República, Juscelino Kubitschek, inaugura a exposição dos painéis no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi a primeira e única vez que Portinari viu Guerra e Paz erguidos. Na inauguração da exposição, o Presidente Kubitschek entrega a Portinari a Medalha de Ouro concedida pelo Internacional Fine Arts Council, em 1955. Portinari realiza a série D. Quixote, constituída por 22 desenhos a lápis de cor, encomendada pela editora José Olympio, para ilustrar os poemas de Carlos Drummond de Andrade.

1957

É inaugurada exposição individual de Portinari na Maison de la Pensée Française, em Paris, patrocinada pela Embaixada do Brasil. A exposição é apresentada depois em Munique e em Colônia, na Alemanha. São doados à ONU, em cerimônia oficial, os painéis Guerra e Paz. Portinari não é convidado a comparecer à cerimônia, em virtude do seu envolvimento com o Partido Comunista, sendo representado pelo embaixador Cyro de Freitas-Valle. Dando início a sua atividade literária, Portinari começa a escrever Retalhos de Minha Vida de Infância.

1958

Portinari inaugura na Galleria del Libraio, em Bolonha, na Itália, sua primeira exposição individual na terra de seus pais. O artista é intimado judicialmente a depor no Departamento Federal de Segurança Pública, sendo indiciado com Oscar Niemeyer, Arnaldo Estrela, Dalcídio Jurandir e outros pelo trabalho desenvolvido na Escola do Povo.   

1959

Portinari participa da exposição itinerante Artistas Brasileiros na Europa, organizada pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Ilustra o livro Menino de Engenho, de José Lins do Rego, editado pela Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil. A V Bienal de São Paulo realiza retrospectiva da obra de Portinari com 127 obras.   

1960

Nasce Denise, neta de Candido Portinari. Nesse dia, Portinari escreve:

"Minha neta me libertará da solidão."

O artista prosseguirá representando sua neta em poesia e em pintura. É publicado na Itália o livro Brasil, Dipinti di Portinari (Brasil, Pintura de Portinari).    

1961

Em viagem à França, é impedido de entrar no país pelo governo francês. Após negociações, recebe um visto de 60 dias, com a condição de não fazer declarações políticas. Retorna ao Brasil com a saúde comprometida. Realiza sua última exposição individual em vida, na Galeria Bonino, no Rio de Janeiro. Portinari faz três painéis em azulejos: Frevo e Peixes, para o Pampulha Iate Clube, projeto de Oscar Niemeyer, e Pombas, para um edifício em Paris.

1962

Em 6 de fevereiro Candido Portinari falece intoxicado pelos metais pesados contidos nas tintas. Seu velório ocorre no Edifício Sede do Ministério da Educação, hoje Palácio Gustavo Capanema, e conta com a presença de diversas personalidades políticas e culturais. O governo emite uma nota de pesar e decreta luto oficial de três dias no então Estado da Guanabara.

 
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