Patrocinada pela Caixa Econômica Federal e pelo Governo Federal, a exposição "Portinari entre Traços e Palavras" será realizada na CAIXA Cultural Fortaleza de 21 de maio a 28 de julho e posteriormente estará em exibição na CAIXA Cultural Salvador, de 13 de agosto a 20 de outubro de 2024. Classificação livre
Candido Portinari, uma faceta menos conhecida
O legado pictórico, ético e humanista de Portinari vai se tornando a cada dia mais conhecido por crescentes faixas de público, que o reconhecem como um poderoso clamor – mais atual do que nunca! – em prol da paz, da fraternidade dos povos, da justiça social e do respeito ao sagrado da vida. Mas ainda é menos conhecido seu papel como um poroso polo de captação e irradiação das principais preocupações estéticas, artísticas, culturais, sociais e políticas de sua geração.
O historiador de arte Clarival do Prado Valladares nos revela que “Portinari participou da elite intelectual brasileira, ao lado dos mais consagrados nomes, no exato momento em que todos eles promoviam uma notável mudança na estética e na cultura dos grandes centros brasileiros”. Ele se refere a Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, José Lins do Rego, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Villa-Lobos, Cecília Meireles, Afonso Arinos, Luiz Carlos Prestes, Jorge de Lima, Alceu Amoroso Lima, Câmara Cascudo, Gilberto Freyre, Anísio Teixeira, Gustavo Capanema, Monteiro Lobato, Adalgisa Nery, entre muitos outros (além de seus colegas pintores, como Guignard, Segall, Tarsila do Amaral, Pancetti, Di Cavalcanti, Djanira, Enrico Bianco, etc.). Foi também sua intensa convivência com poetas, escritores e editores que o levou – ao longo de 29 anos, de 1932 a 1961 – a criar quase 260 ilustrações para muitos livros, não só aqui no Brasil, como também no exterior (exemplos dessas atividades são o célebre livro A Selva, do português Ferreira de Castro, e o convite, por ele aceito, da Editora Gallimard, para ilustrar André Maurois e Graham Greene). Já no ocaso de sua curta vida (ele faleceu em 1962, aos 58 anos), dedicou-se à poesia. Em 2019, no bojo das ações e eventos comemorativos dos 40 anos de trabalho do Projeto Portinari, foi publicado, com o patrocínio da Funarte, o livro Poemas de Portinari, ilustrado com as obras do pintor, que, na primeira edição do livro, publicada em 1964 pela Editora e Livraria José Olympio (sem ilustrações, por desejo expresso de Portinari, a quem repugnava que sua fama como pintor favorecesse sua estreia como poeta), escreveu “quanta coisa eu contaria se soubesse a língua como a cor ”… Carlos Drummond de Andrade assim escreveu sobre a poesia de Portinari: “… Não é demais insistir no que sua poesia representa como expressão verbal de sua pintura e, mais intimamente, de sua experiência de artista e de homem solitário com as dores do mundo. Ela é um documentário dramático das tensões e reflexões de um espírito que pôs na criação artística toda a sua carga de humanidade…”
Felizmente essas 28 obras pertencem ao meu acervo particular, o que muito facilitou o planejamento e a execução do projeto. Esta pequena exposição traz consigo a singularidade de uma faceta ainda bem menos conhecida de Portinari. Sobre as 8 gravuras aqui presentes, publicadas pela Sociedade dos Cem Bibliófilos nos livros Memórias Póstumas de Brás Cubas e O Alienista, de Machado de Assis, um dos primeiros e mais importantes biógrafos de Portinari, o historiador e crítico de arte Antonio Bento assim se pronunciou: “… É bom que sejam divulgados esses desenhos de Portinari feitos sobre o texto de Machado de Assis. São obras gráficas diversas, geralmente expressionistas, mas aparecem ainda traçados quase realistas, semicubistas e até um surrealista…”.
João Candido Portinari
Fundador e Coordenador-Geral do Projeto Portinari
“Nestes dias de desorientação, de funambolismos e de anemia, o exemplo da arte poderosa de Candido Portinari, tão rica de significado, de matéria e de sólida técnica, chega a nós como um bom vento vivificante, a demonstrar-nos que a grande veia latina não se exauriu, mas, ao contrário, enriquecida de novos temas, continua viva, também pelo mérito de um filho de emigrantes que ainda acredita que a pintura seja um ofício sério, árduo e útil aos homens”
Giuseppe Eugenio Luraghi *
* Alto executivo de empresas, editor e escritor italiano, conhecido por ter sido presidente da Alfa Romeo, Giuseppe Eugenio Luraghi (Milão, 1905–1991) foi amigo fraternal de Candido Portinari. Em 1950, Luraghi acompanhou o artista durante sua viagem a Chiampo, no Vêneto, terra natal da família Portinari.