Guilherme Figueiredo, O Jornal, 1962

1962

'O menino Candido Portinari saiu de minha terra com papel e cores em punho para a imensa aventura de pintar uma pátria.

Pintá-la, não: criá-la de uma realidade ignorada, mostrá-la aos quatro cantos do mundo, contorcida, ofegante, opressa, inaugural, como a dizer-lhe: " — Somos assim"…

Um dia, seremos apenas os farrapos de narrativa de nossa existência. E mãos ávidas, mãos sábias do futuro virão recompor o que fomos, virão surpreender-se de nós. E do pó que seremos, retirarão o que beberam aqueles olhos e o que se escapou por aqueles dedos. E saberão que neste lugar existimos, porque ele inventou a nossa eternidade.'

Guilherme Figueiredo

Escritor

In: FIGUEIREDO, Guilherme. Portinari. O Jornal, Rio de Janeiro. 10 fev. 1962.

 
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