'O menino Candido Portinari saiu de minha terra com papel e cores em punho para a imensa aventura de pintar uma pátria.
Pintá-la, não: criá-la de uma realidade ignorada, mostrá-la aos quatro cantos do mundo, contorcida, ofegante, opressa, inaugural, como a dizer-lhe: " — Somos assim"…
Um dia, seremos apenas os farrapos de narrativa de nossa existência. E mãos ávidas, mãos sábias do futuro virão recompor o que fomos, virão surpreender-se de nós. E do pó que seremos, retirarão o que beberam aqueles olhos e o que se escapou por aqueles dedos. E saberão que neste lugar existimos, porque ele inventou a nossa eternidade.'
Guilherme Figueiredo
Escritor
In: FIGUEIREDO, Guilherme. Portinari. O Jornal, Rio de Janeiro. 10 fev. 1962.